11/07/2012
Para o presidente licenciado do IPEA a qualificação dos
sindicalistas é essencial para luta contra a visão “alienada, individualista e
privatista”
Escrito por: Leonardo Severo
O presidente licenciado do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), professor Márcio Pochmann, defendeu a comunicação e a formação
sindical como armas da classe trabalhadora no combate pelo desenvolvimento
nacional com distribuição de renda e valorização do trabalho, num país
extremamente desigual, em que 90% dos empregos são de até um salário mínimo e
meio.
Na mesa “Políticas públicas para o desenvolvimento”, durante
o 11º Congresso Nacional da CUT, Pochmann frisou que a qualificação dos quadros
dirigentes é essencial para a luta contra a visão “alienada, individualista e
privatista” que contamina boa parte das relações sociais, principalmente entre
a chamada “nova classe média”. A recente ascensão deste segmento, explicou,
nada mais é do que o resultado de um processo de alargamento da classe
trabalhadora. Como sua súbita incorporação ao mercado de consumo se deu via
políticas públicas, mas sem a intervenção direta das representações de
interesse - como os Sindicatos, organizações de moradores e estudantis - as
percepções desse grupo são ainda muito despolitizadas e estão em disputa.
Do ponto de vista dos trabalhadores isso se confirma nas
taxas de sindicalização: o país saiu de um patamar de 32% de sindicalizados, em
1989, reduzido pelo neoliberalismo a 16,5% em 1999, e chegando, atualmente,
apesar da política de valorização do salário mínimo e dos inegáveis avanços no
governo Lula, à taxa de 18%.
A mesma desmobilização se repete em outras áreas, lembrou.
“O Prouni representou maior inclusão de estudantes no ensino universitário, mas
isso não redundou em maior fortalecimento das entidades estudantis. Da mesma
forma, a ampliação de moradias não significou o fortalecimento das associações
de bairro. Foram medidas que derivaram da grande política construída pelo
presidente Lula, de decisão política, mas que não mobilizaram. Agora, esses
segmentos que foram beneficiados por políticas públicas inclusivas, devido à
ausência de politização, acreditam que seu crescimento se deveu exclusivamente
à sua própria capacidade, ao seu esforço individual”.
Esta despolitização e desprezo pela ação coletiva, avalia,
acaba jogando a favor do consumismo, de uma visão extremamente conservadora, de
que tudo que é público não interessa, pois é pobre, de segunda qualidade.
Assim, tais trabalhadores viram consumidores de planos de saúde, de educação e
seguridade privada, se posicionando contra o pagamento de impostos. Essa
contaminação com as teses conservadora redunda no vazio das instituições e dos
Sindicatos. “É a lógica do eu me realizo, não preciso do contato de outras
pessoas. Há um esvaziamento da perspectiva coletiva. É como estar num shopping,
rodeado de pessoas, mas sem espaço de sociabilidade”, esclareceu.
BATALHA DE IDEIAS, DISPUTA PELA HEGEMONIA
Conforme Pochmann, o sindicalismo dispõe de uma enorme
quantidade de jornais, revistas, boletins e panfletos, tendo mais jornalistas e
profissionais de comunicação que a própria Rede Globo, mas sem um norte comum
para “disputar a hegemonia”. “É preciso investir na disputa de ideias, para que
a opinião pública não seja reduzida à opinião publicada”, destacou o professor,
para quem a democratização da comunicação é fundamental para assegurar a
verdadeira liberdade de expressão.
O presidente licenciado do Ipea também alertou para o fato
da maior parte do movimento sindical não trabalhar com pesquisas, o que acaba
se refletindo no não conhecimento das suas categorias, debilitando a
conformação de estratégias de médio e longo prazo, limitando as entidades a
ações pontuais, de pronto socorro. O imediatismo é o mesmo de quem busca
soluções emergenciais para sua própria sobrevivência, comparou. “Temos em nosso
país hoje 16 milhões de pessoas miseráveis que sobrevivem com dois reais ao
dia, que não fazem planos além de estar vivo ao anoitecer. Temos os
trabalhadores que planejam o mês, a classe média que planeja o ano e uma elite
empresarial que faz planos para a década”.
Reconhecendo a disposição de luta em defesa da classe
trabalhadora e o compromisso histórico manifestados pelos cutistas, Pochmann
exortou os delegados e delegadas presentes ao 11º CONCUT a “ver o que nos une e
não o que divide, pois com mais força vamos mais longe e mais rápido”.
O secretário geral da CUT, Quintino Severo, destacou que a
intervenção de Pochmann aponta para importantes desafios a serem enfrentados
como o aumento da base de representação, que não é necessariamente o de
representatividade; a busca de maior participação das mulheres no mercado de
trabalho, combatendo a desigualdade salarial e de oportunidades; e o aumento da
massa salarial, que ainda é muito baixa, com o rendimento não acompanhando o
crescimento da produtividade e da lucratividade das empresas.
A secretária de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia
Nogueira, lembrou que no serviço público há importantes batalhas a serem
travadas, como a luta nacional pela destinação de 10% do PIB para a educação e
a valorização dos serviços e dos servidores públicos, que necessitam ser
colocados pelos governos como prioridades na agenda do desenvolvimento. “Isso
nos coloca o desafio de retomarmos as grandes mobilizações, de fortalecer ainda
mais a nossa ação sindical”, concluiu.
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