quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Encontro discutiu sobre os direitos LGBT na saúde










Os Trabalhadores da Saúde e a Homofobia foi o tema que norteou o Encontro Estadual da Diversidade na Saúde ocorrido no dia 22 de setembro na sede da FEESSERS, em Porto Alegre.

O evento, promovido pelo Comitê de Assuntos de Juventude, Gênero, Raça e Diversidade Sexual da Federação, proporcionou um espaço para a discussão sobre a diversidade sexual e de gênero no ambiente de trabalho, incluindo também a questão da homofobia nos diversos âmbitos da sociedade.

Conforme a coordenadora do Comitê, Elaine de Fátima Costa dos Santos, o objetivo do Encontro foi para conscientizar e introduzir esses conceitos entre as entidades filiadas à Federação. A intenção é de que elas reproduzam esse conhecimento aos trabalhadores da saúde e combater todo o tipo de preconceito e discriminação nos locais de trabalho.

O evento contou com a participação de representantes de diversas entidades e pessoas ligadas à causa LGBT que, junto com trabalhadores da saúde, contribuíram para indicativos para a elaboração da Carta de Porto Alegre. As deliberações tiradas desse Encontro serão anunciadas para a categoria e o poder público durante os Jogos Intersindicais, em novembro.

Traçar um panorama histórico e contextualizar os relacionamentos homoafetivos em uma sociedade constituída conservadora, foi a abordagem do professor e integrante da ONG Nuances, Célio Golin, na abertura do evento. Segundo ele, entre os indivíduos que integram a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), as travestis são o grupo de maior vulnerabilidade social. “A travesti significa o rompimento com a denominada normalidade, por isso, com freqüência, é alvo da moralidade”, destacou.

Para a desembargadora e presidente da Comissão Nacional da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB, Maria Berenice Dias, é “imprescindível fomentar este tipo de debate em todos os setores da sociedade, estimulando e cobrando a criação de políticas de Cidadania LGBT”.

Maria Berenice afirmou ser de extrema importância implantar capacitações periódicas para os profissionais das instituições de saúde, bem como, criar equipes multidisciplinares para prestar atendimento adequado a este público. Conforme ressaltou, “é importante que o médico entenda o perfil de vida do paciente e leve em consideração sua vida sexual na hora do diagnóstico”.

Os direitos de LGBTs foi a temática abordada pela diretora do Departamento de Direitos Humanos da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos (SJDH), Tâmara Biolo Soares. Em sua explanação, explicou aos presentes o trabalho que é desenvolvido pela Secretaria na luta pelos direitos homoafetivos. Segundo Tâmara, a SJDH trabalha a partir de quatro eixos principais: visibilidade, acolhimento, políticas transversais e combate à violência.

Nas instituições de saúde, ela defendeu a criação de departamentos específicos para tratar os casos de discriminação e preconceito. “Nós, da Secretaria, entendemos que essas práticas só serão efetivamente combatidas, quando barradas pelos gestores dos hospitais. Por isso, é necessário que cada instituição desenvolva um departamento para tratar especificamente dessas questões”, concluiu.

Durante o encontro, também foram partilhadas algumas experiências pessoais, relatando o processo de transição e aceitação em ser, o que a sociedade considera diferente. Um dos depoimentos foi o de Luisa Stern, ativista da Igualdade-RS (Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul).

Em seu depoimento, Luisa contou ter demorado quase 20 anos para se assumir publicamente. Conforme relatou, o primeiro processo é individual, e consiste no seu aceitamento, e de assumir para si, as suas preferências. Depois, é ter que lidar com a discriminação da sociedade quando se externa a opção sexual e de gênero. “Hoje, sou feliz, estou mais forte. Aprendi a lidar com as adversidades da vida. Mas no início foi difícil”.

Entre os dez anos de idas e vindas ao psicólogo, devido às rejeições e humilhações que sofria por parte da família, amigos e principalmente no trabalho, Luisa chegou a entrar em uma grave depressão. “No início você se culpa, fica confuso. Por que eu? Por que comigo? Depois vem a rejeição e as pessoas começam a te isolar”.

No trabalho, chegou a ser considerada portadora de doença mental. ”Hoje, estou aposentada, mas, na época, trabalhava em um órgão público e fui muito discriminada por causa da minha condição. Chegaram a me afastar das minhas atividades, alegando que eu não tinha sanidade mental”.

Para ela, a falta de informação, aliada à falta de leis, é o que fomenta a discriminação. Mas, para o futuro, ainda aguarda duas grandes conquistas: ter seu nome social reconhecido legalmente em seus documentos e realizar a cirurgia de troca de sexo, prevista para o próximo ano.

Também estiveram presentes no Encontro, o secretário da Justiça e dos Direitos Humanos do RS, Fabiano Pereira; o coordenador de políticas LGBTs da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos (SJDH), Fábulo Nascimento; o jornalista Alexandre Boer; a articuladora estadual da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), Ana Naiara Malavolta, e a presidente da ONG Igualdade-RS (Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul), Marcelly Malta.

O encerramento do evento contou com a apresentação da cantora Bia Aguiar, que interpretou clássicos da MPB na versão acústica.

Evandra Jaques (14.979)

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