Jornal A
Hora do Vale → Edição 763
20, 21 e 22
de julho de 2012
Ex-funcionária
relata que sofreu assédios e perseguição durante um ano e sete meses. Um dos
diretores da entidade confirma à reportagem que sabia do fato. Desde julho de
2011, 92 casos de abuso sexual foram registrados na polícia.
Um mês
depois da publicação do caso de dois professores investigados por assédio
sexual, o presidente do Hospital Bruno Born (HBB), de Lajeado, Claudinei
Fracaro, é acusado por uma ex-funcionária de assediá-la.
A mulher diz
que pediu demissão na semana passada, após sofrer assédios sexual e moral do
chefe durante um ano e sete meses. O pesadelo, como ela define, teria começado
em dezembro de 2010 com uma ligação telefônica à noite.
Na manhã
seguinte, a ex-funcionária relata que começou a receber uma sequência de
mensagens com convites e declarações indecentes por celular e correio
eletrônico. “Eram duas por dia, com palavras cada vez mais agressivas e
vulgares.”
Ela conta
que sempre informou os pais, que a orientavam para manter a postura
profissional. Na tentativa de reduzir as investidas do chefe, começou a
trabalhar sem maquiagem e desarrumada. “Pensava: será que fiz algo para ele
fazer isso? Nunca me insinuei, mas era muita perseguição.”
Em março de
2011, o pai procurou um dos diretores do hospital para pedir ajuda. “Fracaro tem
o maior cargo no hospital e eu era a secretária direta dele, para quem iria
recorrer?”, emociona-se a ex-funcionária.
Depois
disso, os assédios pararam, mas por pouco tempo. Logo, os pedidos e insinuações
ficaram mais agressivos, conta. “Além das cantadas, ele gritava, brigava e me
insultava.” Ela conta que a reclamação feita a outro diretor provocou a fúria
do presidente a ponto de começar a constrangê-la na frente de terceiros.
O clima
tenso e inseguro lhe causou insônia. Ela procurou terapia até pedir demissão.
“Ele é uma sombra na minha vida. Escuto ele me humilhando e falando coisas
ridículas.” Ela relaciona o medo à falta de atitudes das mulheres em denunciar
e pedir ajuda em casos de abuso. “Medo, tenho muito medo.”
Um dos
diretores do hospital confirma que conhece o caso e que conversou com o
presidente há mais de ano. Para ele, a questão estava encerrada, até a semana
passada, quando ela pediu demissão. O diretor diz que a vítima era considerada
uma “promessa na área administrativa”.
Apesar de abalada,
a mulher confirma que adorava trabalhar na instituição, por isso insistiu todo
esse tempo. Cita que seu interesse em expor o caso não é de chantagear ou se
vingar, mas incentivar outras vítimas a não se calarem.
Entrevistada
no dia de seu aniversário, ouviu da mãe, emocionada, que a família a apoiará em
qualquer decisão. Por enquanto, o assunto está com os advogados para análise de
como a família procederá daqui para frente.
Fracaro
afirma que está tranqüilo
Na manhã
desta sexta-feira, o presidente do HBB veio à sede do jornal A Hora e falou
sobre as acusações. “Não estou me defendendo, pois não é verdade. Ela era uma
excelente funcionária. Não entendo o motivo dela ter feito isso.” Fracaro
afirma que muitas reuniões envolvendo a diretoria ocorrem em períodos distintos
dos turnos normais, e que a suposta ligação feita à noite para a ex-funcionária
teria como objetivo marcar encontros para tratar de assuntos profissionais
ligados à instituição.
Sobre as
mensagens indecentes citadas pela ex-funcionária e mostradas à reportagem,
Fracaro diz que não lembra de tê-las enviado. “É normal mandarmos mensagens
para funcionários, mas com palavras vulgares nunca.” Ao ser avisado de que a
reportagem teve acesso aos SMS’s, o presidente perguntou se “o teor das
mensagens seria publicado no jornal”.
Ele comenta
que 80% dos funcionários do HBB são mulheres, e que às vezes ocorrem
brincadeiras. “Podemos ser mal interpretados.” Ele admite que pode ter enviado
mensagens à ex-funcionária para tratar de assuntos profissionais. “Chegamos a
fazer reuniões às 23h, e ela era a responsável por agendar as reuniões e
encontros da diretoria.” Sobre supostos elogios feitos à ex-funcionária, diz
fazer parte de seu “estilo de trabalho”. “Muitas vezes elogio as pessoas na
mensagem.”
Fracaro diz
que a demissão da funcionária é um assunto interno e que envolve diversos
fatores. “Talvez por algumas aspirações que ela tinha e não foram feitas. Eu
como presidente preciso saber como as pessoas serão colocadas lá dentro. Existe
uma série de ponderações em relação à saída dela.”
Ele informa
que a ex-funcionária não trabalhava de forma direta para ele, e lamenta sua
saída. “Ela era funcionária exemplar e teria um futuro brilhante no hospital.”
O presidente demonstra preocupação com a imagem da instituição. Lembra que o
trabalho no HBB é voluntário, e que os diretores não são remunerados. “Temos
muito mais obrigações do que direitos lá entro. Estou muito tranquilo.”
Caso
sigiloso terá audiência
Está marcada
para o dia 28 de agosto a audiência de um caso que segue há quase dois anos na
Justiça. Um professor de Educação Física da rede pública de Lajeado foi
indiciado por agredir e assediar alunos de pelo menos três escolas.
O caso foi
mantido em sigilo e o servidor afastado das escolas, aconselhado a trabalhar
longe de crianças. Hoje, está no setor administrativo de uma secretaria.
Pelo menos
dez meninas entre 9 e 14 anos foram vítimas do professor. No inquérito, o
depoimento de uma das três que foi ouvida pela polícia contém gestos e frases
que ele dizia para as alunas: “Senta no colo do tio.”
O homem
também é acusado de agredir um aluno em uma das escolas. De acordo com uma
diretora, o servidor tinha problemas de conduta, desrespeitava regras e
horários, por isso era constantemente transferido de colégio.
No
departamento pessoal da Secretaria de Educação consta que ele foi transferido
de setor por uma ordem da Justiça, com o motivo: afastamento de crianças.
Acusação
sobre professores
Desde junho,
mais dois casos envolvendo professores foram informados à polícia. Um deles,
que atuava na área de Informática, é investigado por suposto assédio a alunas
de três escolas públicas em Estrela.
As meninas
com idade entre 12 e 16 anos relataram que o professor teve atos pervertidos,
inclusive massageando os ombros e passando a mão na cintura de uma delas. Ele
foi afastado das escolas e nesta sexta-feira será ouvido pela polícia.
Em Lajeado,
um educador físico de uma escola particular é acusado pelo mesmo crime. A
informação chegou à Delegada de Polícia de Lajeado pelo Disque 100 (telefone de
informações anônimas específicas para esse tipo de ocorrência). De acordo com a
delegada Márcia Scherer, nesta semana, mães de alunas começaram a dar
depoimentos.
O professor
foi demitido depois de reclamações de pais das estudantes. Entre as queixas
estão o fato dele tirar a roupa na frente de alunas e avaliar o corpo delas.
Vereador é
indiciado por assédio
A delegada
Márcia entregou ao Judiciário o inquérito com provas e depoimentos contra o
presidente do Legislativo de Lajeado, Rui Olíbio Reinke (PSDB), o “Adriel”, por
assédio sexual. Agora, o processo será analisado pela Justiça.
O vereador
foi acusado, em fevereiro deste ano, por uma adolescente de 17 anos que
trabalhava como estagiária na câmara. A família da garota foi quem registrou a
ocorrência. Segundo depoimentos, Adriel perguntava se ela tinha namorado e
chegou, inclusive, a ameaçar demiti-la.
Quando
contatado, Adriel ficou assustado com a situação porque acreditava que o
processo havia sido encerrado. Ele afirma não ter recebido ofício do
Judiciário.
O perfil dos
assediadores
A delegada
compara as características de quem assedia no emprego e daquele que comete
assédio na escola. No ambiente escolar, a escolha pelas vítimas é coletiva. Na
maioria das vezes, trata-se de um grupo de meninas. É a família quem procura
ajuda da polícia.
No emprego,
o assédio passa a ser pessoal e discreto. A delegada diz que o assediador
mantém o ato em sigilo sob ameaças de demitir a funcionária. Nesses casos,
segundo ela, poucas mulheres procuram a polícia por falta de provas e porque
elas tentam resolver o caso se demitindo do trabalho.
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