sábado, 14 de novembro de 2009

Negligências em série



O que tem acontecido nos casos noticiados de negligência, abuso e crime nas instituições de saúde no Brasil é absurdo. Vejamos o comparativo que repõe as devidas proporções:

Uma determinada causa tem levado aviões a caírem. Os especialistas se reúnem em segredo. Começam a avaliar, um passo por vez, cada sinistro e levantam hipóteses para explicar as quedas. Para validarem ou refutarem as teorias que vão surgindo os técnicos aguardam novas quedas e assim, ao custo de sucessivas tragédias, vão tentando entender o que está ocorrendo.

Da mesma forma o caso de Canoas, guardadas as proporções, tem o mesmo perfil do caso do auxiliar de enfermagem Edson Izidoro Guimarães, condenado pelos homicídios de vários pacientes internados no Hospital Municipal Salgado Filho, no Rio de Janeiro.

Começaram a desconfiar da freqüência de óbitos em determinados turnos e plantões. Fizeram reuniões, estudaram e, por fim,descobriram que os óbitos ocorriam no horário de trabalho de um determinado profissional que poderia estar acometido de psicopatia ou auferindo ganhos financeiros por indicar uma ou outra funerária aos parentes do paciente que ele levava a óbito. A polícia foi chamada e o profissional foi preso em flagrante. Depois de centenas de óbitos suspeitos.

Porque, em Canoas, do primeiro caso ao décimo primeiro os pacientes não foram protegidos? Em aviação não haveria mais decolagens enquanto houvesse o risco. Porque aguardar para dar um flagrante? Parece que o caso se resume a um delito e seria "apenas" caso de polícia, uma fatalidade.

Fatalidade é encontrar um psicopata na rua. Ser atacado num lugar onde é impossível que se estabeleçam protocolos amplos e focados ao mesmo tempo para evitar uma tragédia.

Um hospital é por natureza o local onde estamos mais desprotegidos e completamente em mão de uma série de profissionais que precisam atuar com precisão em uma equipe multidisciplinar na qual todos os procedimentos são cruciais para a segurança do usuário/ cliente/ paciente.

Ao longo de 20 anos de profissão, sei de casos de falhas e equipamentos como aquecedores de água (para umidificadores de ar para respiradores) que simplesmente fizeram a água ferver quando deveriam apenas aquecê-la. Os índices de infecção hospitalar têm a ver com o rigor nos procedimentos de médicos e enfermeiros, mas também com a qualidade do trabalho de higienizadores, serventes que fazem a manutenção de janelas, etc.

Muita coisa acontece e a sociedade decide sem ter as melhores informações. O padrão de segurança em hospitais poderia ser similar ao da aviação, ou do sistema financeiro: São escolhas dessa natureza em uma sociedade democrática que precisam ser feitas.

Todos corremos os mesmos riscos em saúde. Não há uma reserva de profissionais para o setor privado. E em geral corremos de um lado para o outro o tempo todo. E rezamos para ter sorte.

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