Stephanie Teixeira, 12 anos, vítima de erros grosseiros no Hospital Municipal São Luiz Gonzaga, na Zona Norte de São Paulo, acabou recebendo ao invés de soro, vaselina líquida na veia. Uma vida roubada e uma família despedaçada. Mas de quem é a culpa?
Nas reportagens que se sucederam ao ocorrido foi mostrada somente a auxiliar de enfermagem Kátia Aragaki. Não apareceu o médico que receitou a medicação, o enfermeiro supervisor e, muito menos, o farmacêutico do Hospital. Por quê?
Por trás de um atendimento hospitalar existe toda uma equipe. O farmacêutico é responsável pela qualidade da medicação, pelo jeito correto de armazená-la, pela sua rotulagem e embalagem. O médico é responsável pelo diagnóstico e o tratamento do paciente. O enfermeiro, responsável pela supervisão e organização dos serviços de enfermagem. Todos, profissionais de nível superior.
O técnico de enfermagem é responsável por aplicar a medicação, atuar no conforto e no bem estar do paciente. O auxiliar de enfermagem atua no preparo do material a ser utilizado no doente, no seu deslocamento dentro do hospital, na prestação de cuidados básicos como a parte de higiene, de sinais vitais simples, medicamentos simples e curativos simples. Esses dois últimos profissionais só podem exercer sua função sob supervisão direta de um enfermeiro ou de um médico.
O que ocorreu no Hospital Municipal da Zona Norte de São Paulo? Quais podem ter sido os erros?
Primeiro: soro e vaselina no mesmo tipo de recipiente e com rótulos iguais, letras miúdas do mesmo tipo, guardados no mesmo local e misturados. Mas, desde a entrada de um paciente no hospital, ele deve ter um compartimento específico para guardar a sua medicação. Ela é preparada e separada, antes de ser manuseada pelo técnico de enfermagem. Isso é trabalho do farmacêutico e do enfermeiro, que devem planejar e dar segurança a esse processo.
Segundo: Em nenhum momento, Kátia Aragaki deu a entender que havia supervisão no seu trabalho, o que vai contra as normas do COREN. De acordo com as mesmas regas, aplicar soro é tarefa do técnico de enfermagem e não de auxiliar, o que só pode ser feito sob a supervisão do enfermeiro.
O questionamento é por que o enfermeiro supervisor permitiu que a auxiliar realizasse a tarefa? Era rotina? Por que ele não estava supervisionando a medicação a ser aplicada? Se o enfermeiro supervisor tivesse cumprido com sua obrigação, Kátia Aragaki não seria a profissional encarregada da tarefa e a vaselina não teria sido injetada.
Por último: o erro de Kátia, que estava sozinha na sala de hidratação, foi apenas o de buscar o soro para repor na veia de Stephanie, em um local habitual. Pegou o frasco, não leu o rótulo e instalou na paciente, confiando apenas na sua rotina diária. Sem supervisão, numa tarefa que não era sua.
E agora, depois de todo esse desencadear de irresponsabilidades, que começa pela administração do hospital, passa por todos esses profissionais de curso superior, acaba por punir apenas a auxiliar de enfermagem.
É preciso lembrar o caso ocorrido no Hospital Universitário da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, de Canoas, no Rio Grande do Sul, onde uma técnica de enfermagem foi acusada de intoxicar 11 bebês recém nascidos, em novembro de 2009. Na ocasião, também não se suscitou a responsabilização dos seus superiores, nem da administração do hospital. A profissional cumpriu um ano de prisão e agora aguarda julgamento em liberdade.
Considerando que as vítimas, tão prematuras, e suas famílias enlutadas, assim como tantas outras vítimas pelo país afora estão diariamente submetidas a possíveis erros humanos, mas principalmente, a possíveis falhas administrativas, mais recorrentes. Levando-se em conta ainda que a saúde nas instituições privadas do setor é tratada apenas do ponto de vista da lucratividade e não com o chamado humanismo com que se divulgam do ponto de vista de marketing, os resultados não poderiam ser diferentes.
Via de regra, os hospitais não encaram seus funcionários de nível médio com a importância que lhes é devida. Os trabalhadores “invisíveis” que perfazem 80% da mão-de-obra do setor vivem uma combinação perigosa de formação precária, salários baixos e excesso de trabalho e acabam tendo dois ou três empregos. Mais grave: para suprir um quadro cada vez mais reduzido de profissionais para atingir metas econômicas, as instituições os submetem a plantões exaustivos: eles substituem colegas em férias ou afastados por doença – em percentuais que chegam a 20% em determinados hospitais.
Desta forma, um familiar seu ou mesmo você pode estar num leito eletivo, de um bom plano de saúde e ser atendido por um profissional que esteja nestas condições, cuidando de mais de quinze pacientes, quando a OMS preconiza em sete o número ideal.
Pense: ele terá a sua vida em suas mãos e não esta sendo tratado como deveria: como quem lida com a vida. No mesmo prisma, como ocorreu com a auxiliar de enfermagem do Hospital São Luiz Gonzaga, quantas Sthepanies perderão a batalha para a ganância dos hospitais particulares e filantrópicos, cuja filantropia só existe no nome e os isenta de carga tributária?
Ela perdeu a batalha para o lucro, num setor onde o lucro não deveria ser a mais valia.
Não compactuamos com a irresponsabilidade, tampouco achamos que Kátia não teve sua parcela de culpa no episódio, mas no intuito de sermos justos, afirmamos que a responsabilidade começa por quem tem o poder de mando nas instituições. Nesse caso, a menos culpada, com certeza, é a auxiliar de enfermagem. A única pessoa exposta publicamente.
Milton Francisco Kempfer é diretor-presidente da Federação dos Trabalhadores em Saúde do Rio Grande do Sul - FEESSERS
Um comentário:
bem acredito que a auxiliar tenha uma parcela de culpa por não ter lido o roltulo da medicação , mas a estocagem de material em embalagens identicas juntos ou proximos são culpa de alguem ,cade o farmaceutico q inventou um soro fisiologico em embalagem de q tambem é de vaselina e cade a indentificação de cor diferente pois os liquidos são iguais e os rotulos teriam q ser diferentes num momento de cansaço fisico ou pressa da aux de enf poderia haver erro ,e eu gostaria de quetionar quem foi a pessoa q colocou o frasco de valina junto aos soros fisiologicos esta pessoa tbm achou q a vaselina era soro né só q por sorte dela naõ aplicou , mais deixou num local errado propiciando um erro de um companheiro de trablho , vejo erros por todos os lados mais as instituições não querem assumilos dechando apenas o rosto do mais fraco a mostra como dizem filho feio não tem dono será q a auxiliar de enfermagem vai ter q assumir o filho feio sozinha , temos q ter uma equipe multidiciplinar mais unida
para q os erros possam ser diminuidos
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